Hoje eu acordei Cheia de nascimentos Monalisa Ogliari

Acordei despida de mim.

Nenhum traço de saudade.

Nenhuma onda, nem maresia.

Os meus pés não pisaram a areia.

Nem minha memória encontrou o mar.

Nasci hoje assim sem lembranças.

Como quem vê o mundo.

E o vê pela primeira vez.

As árvores me parecem

Estranhamente belas.

E os pássaros figuras

Voadoras muito encantadoras.

Olhei o sol e seu brilho

Pareceu algo pra lá

De surpreendente.

Tudo novo, tão novo.

Que susto levei ao

Observar minhas mãos.

Reparei que era

Feita de dedos.

E entre eles havia

Pequenas ruguinhas.

Havia também pés, pernas.

E pasmem, no espelho

Havia um rosto.

Suavemente apreciei

Aquela esfera redonda.

Composta por olhos,

Nariz e boca.

Que lindo meus olhos.

Eram castanhos e reluziam.

Logo percebi que eram eles

Que me faziam enxergar.

E bendisse aos céus

Esses semicírculos

Que me faziam ver toda criação.

Perguntei-lhe: Será Deus?

Esses olhos que cintilam?!

Dentro deles cabem o sol.

Cabem as árvores.

Cabem os pássaros.

Cabe aquela pessoa

Que passa distante.

Senti-me nascida

Naquele instante.

Mas lembrei que

Rsou mais antiga.

Antes dos meus olhos

Nasceu minha memória.

E lembro daquele amor antigo.

Amor que me

Esquece lentamente.

Peço que me dê também

A fórmula do bem esquecer.

Que não a tomarei.

Que me nego a esquecer

Seus olhos de verde mar.

As raízes de suas árvores

Tão profundas.

Hoje estou mortalmente

Ferida pelas palavras.

Nascida deveras pela nova

Manifestação da

Realidade das coisas.

Ancorada na vida

Que nutro em poesia.

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