A fim de capacitar o servidor para o atendimento específico da população indígena do DF, a Secretaria de Saúde preparou o Fórum de Saúde Indígena. O evento foi organizado pela Gerência de Atenção à Saúde de Populações em Situação Vulnerável e Programas Especiais. A capacitação ocorreu na terça-feira (29), no Memorial dos Povos Indígenas, e teve como foco as experiências do Ambulatório de Saúde Indígena do Hospital Universitário de Brasília.
“Foi a coisa mais motivadora como profissional da saúde indígena que já vi acontecer”, conta a cirurgiã cardíaca do ambulatório, Ismene Serra. A especialista viveu dos 4 aos 8 anos no Parque Indígena do Xingu porque o pai é antropólogo indigenista. Para ela, o fórum foi uma oportunidade de trocar conhecimento com representantes de outras unidades e órgãos.
A nutricionista Giovana Mandulão, 36 anos, é da etnia Macuxi, de Roraima. Ela relata a experiência que vivenciou ao chegar a Brasília, em 2006, para estudar na Universidade de Brasília. “Eu sentia que era invisível; só após muita luta do movimento indígena na universidade que começou esse processo de acolhimento”.
Respeito às tradições
Para o estudante Alisson Cleomar dos Santos, 26 anos, aluno do nono semestre de medicina da Universidade de Brasília (UnB), é importante saber valorizar as particularidades das populações. Ele é da etnia Pankaruru, que fica no sertão de Pernambuco, e conta que a sua tribo tradicionalmente tem ritual de dança com urtiga no corpo. “Tem médicos que não entendem que faz parte da nossa cultura”, diz.
A enfermeira Judite Pereira Rocha, da Unidade Básica de Saúde 1 (UBS 1) de São Sebastião, responsável pelo atendimento do povo Warao, reforça a importância do tema e da atuação de antropólogos envolvidos no contato. “Não é o indígena que não está entendendo, é a gente que não compreende as diferenças e isso precisa ser trabalhado”, afirma.
“Nem todos os indígenas procuram o ambulatório; eles podem ir direto a um hospital, a uma unidade básica de saúde. É um preparo necessário de se ter”, afirma a doutoranda em direitos humanos Suliete Gervásio, 34 anos. Ela é da etnia Baré, da região do Amazonas, e defende que mais encontros como esse sejam feitos.
“A gente precisa incentivar esse diálogo para criar uma ponte entre as comunidades e a UBS”, disse o médico e antropólogo Fernando Natal, responsável pela organização do evento. “A ideia é encontrar mecanismos de capacitação para os profissionais e também uma interface com os demais órgãos.”
Essa foi a terceira iniciativa voltada para a saúde indígena organizada pelo setor. Desta vez, foram chamados profissionais do Ambulatório de Saúde Indígena do Hospital Universitário de Brasília (HUB). Na primeira ação, em janeiro, o evento teve como focos a antropologia e a história dos povos indígenas no DF. A segunda agenda foi em fevereiro e tratou de como abordar situações-problema respeitando as diferenças.
Estiveram presentes no fórum servidores das secretarias de Saúde (SED) e de Desenvolvimento Social (Sedes), do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), da Fundação Nacional do Índio (Funai), da Secretaria Especial de Saúde Indígena e da UnB.
*Com informações da Secretaria de Saúde